As línguas crioulas de Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe (cabo-verdiano, guineense, forro, angolar e principense) foram frequentemente denegridas, silenciadas e reprimidas ou relegadas para segundo plano pelo poder colonial que lhes negou o direito, enquanto línguas autónomas, ao seu desenvolvimento pleno, a par do português. Viram-se assim afastadas dos espaços públicos, como a escola, e privadas de instrumentos de afirmação, como uma escrita normalizada, o que comprometeu, apesar de em graus diferentes, a sua vitalidade. Embora com histórias políticas, sociais e linguísticas diferenciadas, iniciou-se em todos estes países, após a independência, em 1973 (Guiné-Bissau) e 1975, um longo e nem sempre pacífico movimento de valorização dos crioulos, marcado ainda pelo peso das atitudes negativas do passado e das relações com o português, língua oficial. Assumidos como línguas nacionais, passaram a ter como horizonte também a oficialização, num processo ainda não consumado, 50 anos depois, e de que depende, no caso de São Tomé e Príncipe, a própria revitalização.
O Painel convida à submissão de comunicações em torno dos seguintes tópicos:
1. Políticas de língua e planificação linguística em Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Determinantes sociais, linguísticas e políticas do seu sucesso ou insucesso, nomeadamente no processo de afirmação dos crioulos.
2. Mudanças de implantação e grau de vitalidade dos crioulos, na relação de forças com o português e com as outras línguas nacionais, como efeito da independência e das vicissitudes sociais e políticas (migrações, conflitos, etc.).
3. Efeitos linguísticos, nas línguas crioulas, do contacto com o português.
4. Evolução das atitudes linguísticas sobre os crioulos e das perceções sobre o seu possível estatuto de língua oficial, a par do português, e de língua de escolarização.
5. Estádios de normalização e instrumentalização: definição das variedades de referência, desenvolvimento da escrita, produção de gramáticas, dicionários, obras literárias, etc.
6. Experiências de ensino de e em crioulo, nomeadamente em contexto de educação bilingue ou plurilingue.
7. Presença dos crioulos nos meios de comunicação (audiovisuais e imprensa) e nas redes sociais.